2. PORQUE SE CHAMARAM "ILHAS ENCANTADAS"

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Antes dos Descobrimentos Portugueses o conhecimento dos mares era muito limitado. A partir da Europa viajava-se sobretudo no Mar Mediterrâneo, no Mar Negro e junto à costa no Oceano Atlântico. O mais que se conhecia para sul eram as Ilhas Canárias.

Como ninguém sabia ao certo o que havia para além do horizonte, acreditava-se nas histórias fantásticas que contavam alguns marinheiros e pescadores que, por qualquer razão, se tinham desviado das suas rotas. O medo do desconhecido fazia acreditar em monstros marinhos que engoliam barcos, ondas gigantescas de água a ferver, o perigo de atingir a borda do mundo e cair no abismo sem fim, homens disformes que destruíam quem abordasse as suas terras, sereias de grandes encantos e voz maravilhosa que vinham à superfície para atrair os navegadores e os levarem consigo para o fundo do mar... Mas também se julgava existirem locais com árvores que, em vez de frutos, davam pedras preciosas, ilhas paradisíacas, locais maravilhosos que despertavam a vontade de os encontrar.

Em mapas do século XIV, no de Dulcert por exemplo, aparecem já desenhadas umas ilhas nos locais onde se situam a Madeira e Porto Santo, mas com outros nomes. A verdade é que muitas outras ilhas mais ou menos fantásticas aparecem também representadas: Antília, Ilha das Sete Cidades, São Brandão, Satanazes, Cassitérides, etc... No entanto, em 1370, no Atlas Medici aparece a ilha da Madeira, com o nome de "Legname"(que quer dizer "madeira" em italiano), a de Porto Santo e uma Deserta. Em 1375 o Planisfério de Cresques inclui já o arquipélago da Madeira completo: Porto Santo, Madeira, Desertas e Selvagens.

Nunca ninguém saberá quem foi o primeiro a avistar a Madeira e os Açores. É natural que os marinheiros portugueses, que há muitos séculos percorriam as costas da Europa e Norte de África, sempre perto de terra para não se perderem, e talvez até já anteriormente navegadores cartagineses, romanos ou árabes, soubessem que para Ocidente existiam ilhas. Isto porque as tempestades, as correntes marítimas e os ventos por vezes arrastavam os barcos para o largo. Muitos afundaram-se mas outros, navegando ao acaso, conseguiram voltar. Por certo, nesses percursos à deriva, terão avistado ou mesmo desembarcado nas ilhas do Atlântico. E trouxeram notícias delas e de outras que, no meio das tormentas, julgaram ter visto no meio do mar. No auge da tempestade, dificilmente se distinguia a realidade do sonho... e assim as notícias espalharam-se pela Europa, envoltas em mistérios e lendas. Umas teriam um fundo de verdade, outras não.

Mas se é provável que gentes e navios por lá tivessem passado, a verdade é que continuaram desertas e solitárias no oceano, até que os portugueses lá chegassem. Mas esquecidas não estavam: perduravam nas histórias fantásticas que se contavam e nos desejos secretos de encontrar as suas maravilhas.

 

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